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Só conseguimos ajudar o mundo, quando encontrados a nós mesmos. Mas qual o endereço, CEP e bairro do nosso eu? Tal busca não é fácil, guiando-se por um longo e sinuoso processo de aproximação que, muitas vezes, quase chega lá para, no último segundo, tocar a campanhia do vizinho e, assim, recomeçar a trajetória. Antes de pressa, é preciso paciência. Não raro, os anos correm e se transformam em décadas; apesar da passagem do tempo, seguimos enredados no redemoinho das perguntas irrespondíveis, olhando mil destinos sem saber para onde ir. No hiato das possibilidades, a dúvida faz parte da circunstância, pois o viver é incerteza pulsante.

Na busca de sentidos, os espelhos refletem imagens, mas são em nossas relações que o vemos ecoar das substâncias. Amigos, amores, família, trabalho, experiências revelam muito do que somos. A vida vivida é infinitamente mais rica que a vida pensada. É claro que a imaginação tem seu charme, criando cenários paradisíacos capazes de nos fazer levitar. Acontece que, quando a realidade bate à porta, não adianta o recurso a fugas infantis; é com pés no chão que andamos de forma diretiva.

Sim, a dureza e as dificuldades do mundo real potencializam a atratividade de virtualidades enganosas que prometem muito para entregar o nada. A ilusão é uma sereia que canta e encanta muitos marinheiros. Entre maremotos e calmarias, muita gente preparada já deixou o barco virar. O fato é que, quando a emoção bate, a razão recua. E, no cenário da irracionalidade, tudo parece possível.

Ora, na sinfonia da existência, não existe fórmula mágica: é ouvir, ver, viver, e, com pitadas de sorte, sobreviver.

É claro que nossas escolhas exercem papel decisivo para aquilo que queremos ser e para onde queremos chegar. Nas complexas encruzilhadas vivenciais, a boa decisão requer a bússola de norte referenciais: me refiro a personalidades superiores que transcenderam a mediania, se conectaram a seu talento interior, enfrentaram, com coragem, juízos externos tacanhos para realizarem obras pessoais singulares e inconfundíveis em sua expressão de talento.

Regra geral, personalidades referenciais são dotados de uma aversão à mediocridade, uma espécie de rebeldia natural ao continuísmo inerte que apenas vê, passivamente, a vida passar. Trata-se de uma extraordinária força interior transformadora que apenas atinge a paz quando faz o enfrentamento e se liberta das engrenagens sociais reducionistas que, pelo temor ao novo, se contentam com insossos modelos recorrentes. Ou seja, a aversão à mediocridade é uma homenagem à criatividade humana, ao espírito crítico questionador e a todos aqueles que não se contentam em ser menos daquilo que podem ser.

Por fim, em época de pululantes celebridades venais, a aversão à mediocridade também é uma reação ao sucesso efêmero de ídolos sem caráter. Mais do que cifras, o fundamental é exaltar valores e princípios em favor de uma humanidade decente e honesta que eleja o trabalho sério como fonte de acesso legítimo à riqueza material. Aliás, olhando o Brasil de ontem e hoje, fácil concluir que não há nada mais medíocre do que a falta de integridade. Ser íntegro é manter-se fiel a si, na pobreza e na fortuna, no sucesso e no fracasso, fazendo da ação correta e justa uma constante inegociável em nossas opções de vida.  Ser íntegro é ser você. E, sendo você, torna-se possível chegar àquele eu: o ponto de partida de toda e qualquer mudança de impacto.         

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Sebastião Ventura

Advogado, especialista em Direito do Estado pela Universidade Federal do Rio Grande Sul. Ver perfil completo >>